29.8.13

d241 - parte II

Já vivi e senti o que Thomas Merton descreve
 
milhares de
 
 vezes, quer como o irmão mais velho
 
(pecador)
 
quer como o mais novo
 (indignado e 
masoquista)
 
, e nunca tinha conseguido explicar por palavras esta estranha dinâmica que se cria quando não estamos integrados na nossa verdadeira essência que é o amor.

*

~
 
Amor negligenciado
 
~


"Quando penso agora naquele período de minha infância, a imagem que tenho de meu irmão é esta: parado no meio de um campo, a uns cem metros de distância das árvores onde havíamos construído nossa cabana, estava aquele garoto de cinco anos de idade, olhando perplexo, vestido calças curtas e uma espécie de jaqueta de couro, muito quieto, com os braços caídos ao lado do corpo, olhando na nossa direcção, com medo de chegar mais perto por causa das pedradas, tão insultado quanto triste, com os olhos cheios de indignação e mágoa. E, todavia, não se afastava dali. Gritávamos para que ele saísse daí e fosse para casa, atirávamos algumas pedras na sua direcção, mas ele não ia embora. Falávamos que fosse brincar em outro lugar, mas ele não se movia.

E ali ficava, sem soluçar, sem chorar, mas zangado e infeliz, ofendido e tremendamente triste. Olhava, porém, fascinado para aquilo que estávamos fazendo, isto é, pregando sarrafos por cima de nossa nova cabana. Seu imenso desejo de estar connosco e fazer o que fazíamos não o deixava ir-se embora. A lei escrita em sua natureza dizia que devia ficar com seu irmão mais velho e fazer o que ele fazia: não conseguia entender por que essa lei do amor estava sendo tão selvagem e injustamente violada em seu caso.

Muitas vezes acontecia a mesma coisa. E, em certo sentido, esta situação terrível é o padrão e protótipo de todo o pecado: a vontade deliberada e formal de rejeitar o amor desinteressado por nós pela razão puramente arbitrária de simplesmente não o querermos.

Queremos separar-nos desse amor. Nós o rejeitamos total e absolutamente e não queremos reconhecê-lo, simplesmente por que não nos agrada ser amados. Talvez o motivo mais profundo é que o fato de sermos amados desinteressadamente nos lembre de que todos precisamos do amor dos outros para levar avante nossa vida. Recusamos o amor e rejeitamos o convívio, à medida que isto parece à nossa perversa imaginação implicar uma forma obscura de humilhação."

{A Montanha dos Sete Patamares, Thomas Merton (Vozes, Petrópolis), p.27.}

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