30.4.13

d120

Não resisto a transcrever estes parágrafos do livro que levei para ler no metro hoje de manhã.

"Eliseu e a sunamita
É uma amizade que principia com o convite para partilhar uma refeição. «Certo dia, ao atravessar Sunam, veio ao encontro de Eliseu uma mulher rica e convidou-o a comer em sua casa. E sempre que por ali passava, dirigia-se à casa daquela mulher para tomar a sua refeiçãi» (2RS 4,8). A condivisão da mesa permite um conhecimento e uma solicitude crescentes. A família amiga do profeta decide, então, construir um quarto no seu terraço (e é tocante a enumeração do detalhe: «com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada» - 2Rs 4,10) para que ele possa repousar nas ocasiões em que os visitar. Em favor da Sunamita e do esposo, Eliseu faz por sua vez uma promessa de fecundidade: «por este tempo, no próximo ano, acariciarás um filho» (2 Rs 4,16). Além do milagre que é típico da actividade profética, podemos ver aqui o milagre quotidiano, e igualmente transformador, que a amizade gera. Os amigos ajudam-nos a vencer tantas formas de esterilidade: tornam a nossa vida irradiante. Entretanto, há um segundo milagre, pois o menino morre e é reanimado por Eliseu. Mas também aqui é importante determo-nos na forma humaníssima como a história nos é contada. Quando um servo do profeta quer afastar a Sunamita e o seu pranto, Eliseu repreende-o: «Deixa-a, a sua alma está amargurada» (2Rs 4,27). Os amigos não defendem apenas o nosso sorriso: oferecem-nos o tempo para chorarmos o que temos de chorar."
{José Tolentino Mendonça | Nenhum Caminho será Longo}

Este livro está repleto de pérolas e apetece transcrevê-lo todo, todinho. Esta pequena história que li hoje de manhã fez-me lembrar ocasiões em que o milagre da amizade se desenrolou na minha vida, pessoas e situações concretas, tantas tantas.

Mas também me lembrei de uma ocasião em que um amigo não me quis dar o tempo e o espaço de que eu precisava para me reorganizar e de como isso foi difícil de gerir. Muitas vezes exigimos que aqueles que nos ajudam e nos dão alento continuem permanentemente a servir-nos com a sua alegria e não lhes permitimos esse tão precioso tempo (afastamento) para se focarem neles e se reequilibrarem. Também já caí nessa tentação egoísta e se calhar nem sempre me dei conta. Ler este livro está a fazer-me redescobrir a verdadeira essência da amizade. Acredito que a minha vida e as minhas amizades acabem por ser transformadas.

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