10.5.13

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Estava a falar com alguém sobre outra pessoa que a tinha ofendido. Ela dizia: "agora já consigo dar-me bem com ela; mas eu nunca a irei perdoar". Era revelador: o "nunca irei" em vez de "nunca poderei". 

Fiquei surpreendido com o sentido de desafio, até mesmo de orgulho, naquela revelação de nunca perdoar. Era como se ela soubesse que tinha a capacidade de perdoar, de deixar ir e seguir adiante. Mas, por qualquer razão, ela preferia manter essa química agridoce do ressentimento e da raiva. Talvez esta nos transmita um sentido satisfatório de superioridade moral - "sou eu a parte ofendida, por isso tenho sempre razão, desde que aja por impulso desse ressentimento". Talvez, também, não haja assim tanta liberdade no acto de perdoar como poderíamos pensar.

Por que raio de razão iríamos preferir a dor e a negatividade do passado, em lugar de crescer, por meio dele, e seguir em frente com o bálsamo da sabedoria, da compaixão e de uma nova profundidade? Por nenhuma razão válida; e, no entanto, conseguimos sempre encontrar razões. Quem é que nunca fez alguma coisa conscientemente má, sem construir uma defesa ou justificação para o que fez? 

É sempre fácil mascarar o que é irracional e auto-destrutivo, de racional e saudável. No entanto, deixar a raiva e o ressentimento agarrar-se a nós obscurece, meramente, quem nós somos e diminui aquilo em que somos capazes de nos transformar. Naquela pessoa com quem eu estava, senti esta contracção. O seu comentário - acompanhado por um olhar levemente louco, se não mesmo demoníaco - era uma expressão, não de maldade, mas de responsabilidade diminuída.

Tal como o filho mais novo, na parábola, quando nos deixamos levar pelo prazer e, depois, ficamos doentes, devido ao excesso, achamos que merecemos ser punidos -  pelos nossos corpos ou por outras pessoas ou por Deus. Parece que não merecemos ser perdoados e ver restaurada a relação que nós ofendemos. De forma nada surpreendente, aplicamos o mesmo padrão de justiça aos outros. A medida em que damos a nós mesmos será a medida em que damos aos outros.

De facto - como qualquer meditação nos poderá mostrar - o amor não tem limites e é transbordante. O perdão está à nossa disposição. "O Reino dos Céus está mesmo à nossa mão" - o mote para cada dia da Quaresma.

{Laurence Freeman | Terça-feira da 4ª semana da Quaresma 2013}


A questão que se coloca hoje, para além da necessidade de eu perdoar o outro, é perdoar-me a mim própria por ter criado falsas expectativas, por não ter visto que uma laranjeira não pode dar maçãs.
A desilusão só surge porque me iludi, idealizei o outro {o outro ajudou pois como pessoa moralista que é estava a adorar ser visto como um modelo, como uma referência}.

O mais importante de tudo é perdoar.
Logo a seguir, é continuar a trabalhar para ganhar consciência, para ver com os olhos limpos do coração a realidade tal como ela é e, a partir daí, recomeçar a construir.

As coisas nunca pioram quando nos levam a uma maior consciência e à verdade.

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