quando estava a andar pela cidade um dia, reparei numa mulher branca na sarjeta a esburgar umas espinhas de peixe. era pobre, e aparentemente sem casa, mas era jovem e não sem atractivos. eu sabia, é claro, que havia brancos pobres, brancos que eram tão pobres como os africanos, mas raramente se viam. estava acostumado a ver mendigos negros na rua, e surpreendeu-me ver um mendigo branco. embora normalmente não desse esmola a mendigos africanos, senti o impulso de dar dinheiro a esta mulher. nesse momento, compreendi as partidas que nos prega o apartheid, pois que as provações diárias que afligem os africanos são aceites como se fossem naturais, enquanto que me senti imediatemente tocado por esta mulher branca andrajosa. na áfrica do sul, ser pobre e negro era normal, ser pobre e branco era uma tragédia.
[nelson mandela / longo caminho para a liberdade]
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