7.4.11

madiba - procura-se!

acordei a minha mãe, que ao princípio parecia ter visto um fantasma. Ficou encantada. Eu tinha trazido comida - fruta, carne, açúcar, sal, e uma galinha - e a minha mãe acendeu o lume para fazer chá. Não nos abraçámos nem beijámos; não era nosso costume. Embora eu estivesse feliz por estar de volta, sentia uma sensação de culpa ao ver a minha mãe a viver sozinha num ambiente tão pobre. Tentei persuadi-la a vir viver comigo em Joanesburgo, mas ela insistia que não queria deixar o campo, de que tanto gostava. Perguntei-me - não pela primeira vez - se uma pessoa tinha o direito de negligenciar o bem-estar da sua própria família para lutar pelo bem-estar dos outros. Há alguma coisa mais importante do que olhar por uma velha mãe? Será que a política é um mero pretexto para iludir as responsabilidades pessoais, uma desculpa para o facto de não se ter sido capaz de fazer o que se queria ter feito? Depois de estar mais ou menos uma hora com a minha mãe, fui passar a noite a Mqhekerweni...

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muitos dos que aderiram ao PAC fizeram-no devido a agravos ou decepções pessoais, e não pensavam no progresso da luta mas nos seus próprios sentimentos de inveja ou vingança. Sempre acreditei que, para ser um lutador pela liberdade, tem de se suprimir muitos dos sentimentos pessoais que nos fazem sentir como um indivíduo separado e não como parte de um movimento de massas. Luta-se pela libertação de milhões de pessoas, não para glória de um só indivíduo. Não estou a sugerir que um homem se torne um autómato, nem que se liberte de todos os sentimentos e motivações pessoais, mas, da mesma forma que um lutador pela liberdade subordina os interesses da sua própria família aos da família do seu povo, assim também deve subordinar os seus sentimentos individuais ao movimento.

[nelson mandela / longo caminho para a liberdade]


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