15.5.13

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Um amigo querido traduziu do inglês este maravilhoso texto de John Main.
Não me canso de o ler, é uma verdadeira inspiração quer para as comunidades a que pertenço quer para a família que estou a construir.
LINDO!


Comunidade Cristã II

Tal como nos é possível reduzir Deus ao nosso tamanho, impor-lhe a nossa identidade, também nos é possível fazê-lo às pessoas. Com efeito, se o fazemos a Deus, estamos a fazê-lo às pessoas. E se o fazemos às pessoas, fazemo-lo inevitavelmente a Deus. Como disse São João:
"Se alguém diz que ama a Deus mas odeia o seu irmão é um mentiroso. Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê! O mandamento que Jesus nos deixou é este: aquele que ama a Deus deve também amar o seu irmão" (1 João 4, 20-21).
Sejamos claros sobre o que São João nos diz. Não podemos amar a Deus sem amar o nosso próximo – ou amamos os dois ou não amamos. E amar significa rejubilar com a alteridade do outro, porque a profundidade desta consciência é a profundidade da nossa comunhão com o outro. Nesta comunhão, a descoberta da nossa verdadeira identidade e da verdadeira identidade do outro é uma única operação. Deste modo, encontramos nas pessoas com quem vivemos o nosso eu verdadeiro e não meros objectos a tratar de acordo com a nossa semelhança aparente. Porque o nosso eu verdadeiro só se revela, só se realiza quando estamos inteiramente centrados no outro. Na meditação, desenvolvemos a capacidade de centrar todo o nosso ser no outro. Aprendemos a deixar o nosso vizinho ser, e aprendemos a deixar Deus ser. Não para manipular o próximo, mas para o reverenciar, para reverenciar a sua importância, a maravilha do seu ser. Por outras palavas, para o amar. Por isso, a oração é a melhor escola de comunidade. É pela seriedade e pela perseverança na oração que encontramos a verdadeira glória de uma comunidade Cristã, como uma fraternidade de ungidos, vivendo em conjunto num profundo e afectuoso respeito mútuo. A comunidade Cristã é, no essencial, a experiência de ser reverenciado e de reverenciar o outro. Esta reverência mútua revela que os membros da comunidade estão sensivelmente sintonizados uns aos outros no comprimento de onda do Espírito, através do mesmo Espírito que chamou cada um de nós ao amor inteiro. Reconheço nos outros o mesmo Espírito que vive no meu coração, o Espírito que constitui o meu verdadeiro eu. E neste reconhecimento do outro, um reconhecimento que refaz as nossas ideias e alarga a nossa consciência, o outro passa a ser ele próprio, na sua essência, e não uma extensão manipulada de mim mesmo. Ele move-se e age de acordo com a sua realidade e já não como uma imagem criada pela minha imaginação. Mesmo que as nossas ideias ou princípios colidam, estamos unidos num equilíbrio dinâmico pelo reconhecimento das nossas infinitas amabilidade, importância e singularidade.
Por isso, a dinâmica mutuamente amparadora e sofredora do corpo místico de Cristo tem este sentido – a realização do ser essencial de cada um. A verdadeira comunidade existe no processo de crescimento de cada um para a luz do verdadeiro ser. Neste processo, partilhamos uma experiência de aprofundamento da alegria de viver, da alegria de ser, enquanto descobrimos mais e mais sobre a sua completude na fé partilhada com o outro. A essência da comunidade é, portanto, o reconhecimento e uma profunda reverência pelo outro.
A nossa meditação participa desta essência, porque nos leva a centrar-nos no outro, que é o Espírito no nosso coração. A revelação completa da alteridade e da nossa comunhão com tudo é alcançada em silêncio reverencial. A nossa atenção está tão centrada no Outro que não dizemos nada, esperando apenas que o Outro fale. O mantra guia-nos a uma consciência mais profunda do silêncio que reina em nós, que nos apoia enquanto esperamos.

{John Main OSB}

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